sábado, 22 de outubro de 2011

PAINEL SOBRE A JUVENTUDE


No dia 21 de outubro, às 18h30, foi realizado no Edifício João Paulo II, o painel: “Questionamentos e Esperança da Juventude: Desafios da Igreja”. A abertura do painel foi feita por Dom Orani João Tempesta.

O arcebispo da Arquidiocese do Rio de Janeiro lembrou que o Papa pediu que comemorando os 20 anos do Catecismo da Igreja Católica que celebrássemos o ANO DA FÉ em 2012 e louvou a iniciativa do Instituto Superior de Ciências Religiosas que promoveu o evento. Ressaltou a esperança que devemos ter na juventude e convocou a todos s não perdermos jamais a alegria em viver e transmitir a nossa fé. Em seguida, todos foram brindados com uma linda apresentação musical com a Ave Maria de Schubert.
Dom Romer presidiu o painel, e começou apresentando os componentes da mesa: Dom Antônio Augusto, bispo auxiliar da Arquidiocese do Rio e Monsenhor Joel Portella, coordenador de Pastoral.

INTRODUÇÃO (Dom Karl Josef Romer)

Dom Romer fez algumas considerações iniciais. O mundo parece ter virado um imenso self-service. Mas quais os critérios que o mundo oferece para escolha. Paralelamente com essa imensa força de oferta, existe uma imensa onda de ofertas e sensações que querem dispensar qualquer julgamento crítico: vale o que me é útil e me traz prazer. Isso só desfavorece a personificação autônoma.
Quem é jovem? O que é a juventude? É a fase do desabrochar em todas as dimensões da vida. É o abandonar da infância e o acolher de projetos de vida mais maduros. É uma fase de transformações profundas que favorecem ou embaraçam a formação da personalidade. Aprendizado da decisão responsável, intranqüilidade psíquica, maturação sexual e conflitos existenciais são alguns dos desafios desta etapa da vida. E tudo se potencializa se o jovem não encontra adequada acolhida e orientação no mundo adulto que o cerca.
Num mundo que atrofia os valore éticos e que tem carência de cultura moral – já dizia Einstein – preciso reconfigurar a educação dos jovens que quis se pautar exclusivamente na ciência e acaba informando, sem formar. Vê-se ai grandes desafios e potencialidades para a ação pastoral. A sede do futuro e do autêntico pode suplantar o que há de aparentemente negativo. Para tal, os jovens precisam de mestres capazes de entusiasmá-los e de amigos em que encontrem admiração. Assim, verão que o ideal é possível.

ASPECTOS ANTROPOLÓGICOS (Dom Antônio Augusto Dias Duarte)

Dom Antônio Augusto ressaltou que a palavra “desafio” em vez de paralisar a Igreja é o que, na verdade, a move e a estimula. Aceitando os desafios e buscando a solução dos mesmos é assim que ela cresce. No título do painel também aparecem as palavras “questionamentos” e “esperança”. Vemos aí duas linhas que se entrecruzam.
E a Igreja – que é Mãe -- se preocupa com seus filhos. Uma dimensão neste relacionamento nunca pode ser esquecida: a afetiva. A dimensão da afetividade humana parece muito diluída nos ambientes acadêmicos e até na família. Há muita confusão entre sexualidade e afetividade. Procura-se dar educação sexual muitas vezes distorcida (dando anticonepcionais, camisinha, etc...), mas não há preocupação para se formar a afetividade.
Toda a relação familiar, se não for bem conduzida, pode atrofiar o desenvolvimento da afetividade que é inata do ser humano. Não pode existir pessoa “seca” do nada... sem que tenha havido algo em sua história que a distorcesse para ser assim. Os afetos não estão nos hormônios, mas na nossa essência humana e por isso são fundamentais para a plena realização humana.
Precisamos diferenciar outros termos de afetos (ou sentimentos, ou emoções). Alguém se diz “apaixonado” e pode confundir que está amando.
(1) A sensação é uma experiência de percepção básica que não requer o uso da inteligência. Luzes, sons, calores, tremores... são percepções.
(2) Emoções são respostas físicas. Se eu som é alto, inclinamos a cabeça para ouvir; se é alto fechamos o olhos e contraímos os músculos da face. Rubores, taquicardia... há uma relação com o sistema endócrino, nervoso, muscular.
(3) Paixão é atenção pessoa concentrado num deterrminada aspecto que nos causou uma senação ou emoção e a paixão nos move em direção ao objeto da paixão. Sensação é sentir, emoção e responder e paixão é atender.
(4) Afeto (ou sentimento) é uma dimensão muito mais íntima e interior do que a puramente perceptiva. O afeto é uma reação, uma ação que se renova, que se restaura, que recapitula aquilo que nos chamou a atenção. Fala-se de sentimento como o coração da pessoa. Jesus usou esta imagem: “A boca fala da abundância do coração.”. São reações vitais que nos caracterizam na nossa identidade de ser humano. Os sentimentos ou afetos são as ações inteirores que nos levam a tomar posic’~oes na vida. Um marido pode estar desapaixonado, não “sentir” mais nada por sua esposa, mas ter ainda profunda afeitivadade por ela.
Aí precisamos distinguir também estado psicológico e estado afetivo. Se uma pessoa diz que não “se sente” bem em determinada vocação, situação, uma pessoa passional, não tem uma linha reta na sua vida. Esse é um desafio na juventude. Educar o jovem para não se deixar levar por essa superficialidade. Para que os jovens perseverem após a Crisma, não basta só investir na qualidade ou quantidade de encontros. É preciso atentar também para a formação do seu estado afetivo. Se não tivermos uma motivação muito forte, algo que vá além do biológico, sucumbimos às tentações. O estado afetivo é essa reação motivacional.
Um grande questionamento e esperança no trabalho do jovem é serem formados na sua intimidade afetiva para que amadureçam nas decisões. Como deenvolver uma personalidade normal se o coração de tantas pessoas está vazio, se os adultos que deveriam orientá-los estão, me permitam um neologismo, desafetivizados. Deus não trabalha sobre a desordem. Como podemos querer que o jovem crie um vínculo com Deus, se ele não for orientado para criar vínculos saudáveis com as pessoas mais próximas. Seus corações também estão vazios, ou, então, cheios de desafetos, num mundo que só valoriza o “sentir” bem superficial. As pessoas não são estimuladas a terem afetos.

Por que os jovens ficam? Por que pegam? Porque é pura sensação, emoção ou paixão. Acostumam-se com essa vida, casam-se, continuam assim, sem qualquer reflexão crítica, e aí quando “não sentem mais nada” se separam e buscam novas emoções. Não foram ensinados de que o mundo real baseia-se nos afetos. Dom Antônio fez uma comparação com o barco a vela. Tem leme – é a inteligência humana. Tem motor – é a vontade livre. E, claro, a vela – é a afetividade. Para não corrermos o risco de formarmos ”monstros”, precisamos ensinar a navegar neste barco com os três elementos em harmonia, equilibrando inteligência, liberdade e afetividade.
O grande desafio das Igrejas e das famílias é formar um jovem inteligente de verdade, que compreenda as grandes verdades da vida, autônomo (no melhor sentido do termo) mas também consciente dos seus afetos, maduro sentimentalmente. Formar o jovem para aquilo que é e para o que virá a ser: filho, filha, irmão, irmã, marido, esposa, pai, mãe, sacerdote, religiosa, político, profissional...e, acima, de tudo, formar um cristão que tenha ética, compromissos e vínculos.

ASPECTOS PASTORAIS (Monsenhor Joel Portella Amado)

Monsenhor Joel Portella trouxe ao painel um enfoque pastoral. Como evangelizar eficazmente o jovem. O ponto de partida hoje é olhar o mundo em que vivemos. Tecnicamente há vários nomes para chamarmos deste mundo, mas podemos viver que estamos num período histórico de passagem: é a mudança de época. Aqui entra a grande responsabilidade da aça evangelizadora na juventude. O mundo pede essa ação da Igreja urgentemente.
Um dos pontos centrais que preocupa a Igreja a bastante tempo é que as instâncias tradicionais de transmissão da fé estão em decadência.A realidade familiar, por exemplo, às vezes, sequer existe. A escola não pensa em contribuir para a formação ética e moral, com o pretexto de um Estado laico, que na verdade quer se fazer de ateu. Neste momento histórico essas instituições não tem mais o mesmo fôlego que no passado.
Hoje até a experiência religiosa é enfraquecida. Vivemos ou o indiferentismo ou a religião a La carte: cada um escolhe o que mais lhe convém. O ser humano é quase forçado a escolher o tempo todo: escolher valores, escolher a orientação sexual... E, como no restaurante, cada dia queremos provar algo diferente...
Os estudiosos concluem três tipos de se viver o Cristianismo ou formas de viver a religião em geral:
1) a experiência religiosa sentimentalista – a pessoa se identifica com o sentir, com o prazer, em experiências catárticas, experiência de momento (que vive o presente, mas não tem passado, nem futuro). Carece de uma dimensão integral, pois se apóia apenas na emoção. Atrai a muitos, mas onde fica a cruz? Essa experi6encia é insuficiente.
2) a experiência religiosa da auto-ajuda – é muito parecida com a anterior. É como o lema “Pare de Sofrer”, por métodos que mais parecem terapias psicológicas de segunda categoria. É acreditar que Deus pode estar em minhas mãos (vide expressões como “pacto”, ou “Tá amarrado!”). Diz Rita Lee em uma de suas canções: “Deus sou eu!”.
3) experiência religiosa ética-solidária – basta fazer o bem, deixando-se de lado a dimensão litúrgica, comunitária. Na Conferência de Aparecida, Bento XVI alertou, Todo o compromisso com o próximo brota de um encontro pessoal com Jesus Cristo, e o Jesus inteiro: pessoa e mensagem.
Todas elas são incompletas, e por isso a Igreja nos faz um convite à nova evangelização, como disse João Paulo II: “Recomeçar a partir de Jesus Cristo”. Começar o zero, ou seja, desde o primeiro anúncio de Jesus. Quantos jovens não conhecem na da de Jesus porque cresceram sem qualquer parâmetro de fé, mas só tiveram semente de indiferença religiosa!
Não há ainda muitos caminhos, há tentativas, pois ainda estamos em construção, mas sabemos que é preciso despertar o fascínio por Jesus Cristo, por aquele que me amou primeiro (cf. I Jo 4, 19). É dessa experiência que vai imprimir uma nova cultura neste mundo.
Outra grande questão é a experiência eclesial. O que temos hoje para oferecer ao jovem? Os modelos tradicionais de grupo jovem não respondem aos anseios dos jovens. A presença da Igreja nas escolas, universidades, mundo do trabalho é insuficiente. O que fazer? Bom, um primeiro caminho é o testemunho, caminho antropológico fundamental, contra o qual não há argumento. Os jovens procuram ídolos para se mirarem, para imitarem. E um segundo caminho é a causa. A juventude de hoje está cansada de discursos, mas anseia por causas, por um sentido prático para o qual entregar a sua vida. Não há receita, mas há um mundo novo e um desafio evangelizador imenso.

Ao final das conferências, Dom Romer abriu para perguntas da assembléia e o debate foi muito proveitoso. O evento como um todo foi uma oportunidade riquíssima como reflexão e proposta de ação.

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