sábado, 24 de outubro de 2009

SEMANA DO PLANEJAMENTO FAMILIAR - FORMAÇÃO 4

“Os princípios doutrinários da Humanae Vitae” (Pe. José Rafael Duran)



Paulo VI sempre teve uma postura muito dialogal com o mundo em todos o seus escritos e o faz também na Humanae Vitae (HV): ela está dentro de uma perspectiva muito clara sobre a vida e a conjugalidade, que são os princípios doutrinários da encíclica. Para compreendermos bem o que isso significa é preciso sensibilizar-nos com o conteúdo da HV.
O amor conjugal é humano, singular, exclusivo sem ser particularizante, fiel (assim como Deus é fiel) e fecundo, isto é, uma experiência aberta à vida. Há 41 anos, a HV escandalizou (e continua escandalizando) o mundo porque veio com a proposta de fidelidade no amor singular e experiência conjugal aberta para a vida.
O contexto da HV é necessário para compreender essas relações:
1968, três anos após o Concílio Vaticano II com sua eclesiologia nova: algo determinando para o surgimento da HV, especialmente pela Lumem Gentium e Gaudium ET Spes. 1968 foi um ano controvertido, marcado por estados totalitários, pelo surgimento de novas tecnologias que questionam a vida e amor, pela busca do “mundo livre”, a mentalidade do “é proibido proibir”, paz com anarquia, novas correntes teológicas... A vida humana foi questionada e dentro dela o amor e especialmente o amor conjugal.
Dentro desse panorama da época e do que temos hoje, podemos nos questionar:
- A HV é infalível? Sua infalibilidade atinge os corações dos cristãos?
- Por que o Magistério precisou definir alguns pontos essenciais sobre a vida conjugal?
- Existem fundamentos bíblicos para tal?
- Como ela nos remete a Gaudium et Spes?
A HV é clara, acessível, familiar. A Igreja apresenta um caminho a seguir para os casais e apresenta aos pastores um rumo a tomar. Apresenta a fidelidade e o irrenunciável valor da indissolubilidade conjugal.
O histórico que precede a HV pode ser definido como o seguinte, dos pontos de vista teológicos e dogmáticos:
- Desde o Concílio Fiorentino (1438-1445), lança a bula “Pro Armenis”, declara abertamente sua preocupação com os nascituros e o direito à vida. Cita Tertuliano: “Niguém pode deixar de ser aquilo que é e será.”
- O Concílio Tridentino (1545–1563) em seus documentos destaca cinco pontos fundamentais:
1. Todos os seres humanos são feitos á imagem e semelhança do Criador. Portanto, somos criaturas em nossa substância e essência.
2. Estamos em íntima relação com o Criador, o que nos diferencia das demais criaturas como pessoas.
3. A experiência de ser pessoa para com o Criador nos dá o direito de nascer, o que não pode ser por ninguém impedido.
4. Todos têm o direito de nascer e serem amparados.
5. Essa tutela deve ser responsabilidade dos familiares.
- O Papa Sisto V: escreve sobre a impotência masculina e o uso de veneno contra os nascituros.
- O Papa Gregório XIV: escreve contra o que impedem a fecundação no útero.
- Leão XIII: resgata a origem, a finalidade e grandeza do matrimônio
- Casti Conubii (1931), de Pio XI, dentro do seu contexto (e não da sua teologia), pode ser a antecessora da HV. Pio XI situa a encíclica diante de duas preocupações: o divórcio e os filhos. Mostra o valor da indissolubilidade.

A CONJUGALIDADE NA HV:
Podemos rever o acolhimento aos casais em segunda união, mas não podemos perder o foco. Não podemos perder esse grande valor, especialmente investindo na preparação ao matrimônio, que é a referência e o amor de Cristo pela Igreja (Ef 5,32; Gn 2,24), que é um amor que não abandona. A indissolubilidade não é ocasional, mas faz parte da nossa relação com Deus, é a base do amor conjugal, da vida íntima dos casais e do bom exemplo que os casais dão aos seus filhos. Um casal que compreenda vivencie e assuma a indissolubilidade compreenderá que Cristo estabeleceu conosco uma aliança eterna.
A encíclica também trata do bem da fé: a mútua fidelidade e a unidade no contexto matrimonial. Só aquele que tem fé, que acredita em Cristo e na Igreja é que pode compreender o que é a indissolubilidade e bem viver a beleza do matrimônio. Quem não tem fé, viverá o matrimônio apenas como um contrato. Matrimônios sem fé, nunca deveriam ter existido. Sem a experiência de Deus, um homem e uma mulher viverão qualquer tipo de relação menos a da perfeita unidade. A unidade do casal é absoluta e irrenunciável.
Quais são as vantagens da indissolubilidade dentro do princípio doutrinário?
1. A estabilidade absoluta do vínculo é sinal de perenidade
2. É ela que dá alicerces para a vivência da castidade, sólido baluarte de defesa contra as tentações.
3. Concorre para aumentar a dignidade dos cônjuges como pessoas pelo mútuo auxílio e cooperação na busca dos bens mais altos. Se a esposa não for digna do marido e o marido não for digno à esposa, eles poderão viver um contrato, mas não uma experiência conjugal.

A VIDA NA HV:
O primeiro bem do casamento são os filhos. “Crescer”, no sentido bíblico, é dar a vida. Todos os outros povos tinham medo dos israelitas pela velocidade e generosidade com que se multiplicavam. O Rhuá divino estava no meio do povo de Israel, comunicando vida. A ordem de Deus para a procriação é que todos o honrem, o conheçam, o amem e gozem o céu (I Ts 5,14). Que os casais tenham a coragem de dizer: “Queremos casar para dar a vida nova a este mundo!”
É fundamental citar também a Gaudium et Spes. A sua atualidade mostra a todos nós como a comunidade dos fiéis de vê se encarnar no mundo de hoje, com especial destaque para os números 13, 16 e 22. O Capítulo I promove a dignidade do matrimônio e da família. Ele elabora em seis pontos o que vamos resumir em três:
- A salvação da pessoa: o embrião é pessoa humana, o anencéfalo é pessoa humana, o deficiente é pessoa humana, cada um de nós é pessoa humana. A salvação da sociedade deve estar ligada ao bem-estar da comunidade conjugal. Ela passa necessariamente pelo encontro dos cônjuges porque é daí que vem a vida da pessoa. Não podemos falar de um Brasil melhor sem bons cônjuges. Eles nunca deixarão de ser um ponto essencial na história da salvação. Não há um só pedaço da historia da salvação em que não apareça a figura conjugal, sustentada pelo amor de Deus.
- Essa realidade divina é obscurecida e ameaçada pela poligamia e pelo divórcio. Muitos ainda não compreenderam a verdadeira proposta do amor conjugal.
- Promover a dignidade do matrimônio. O matrimônio não é cruz, nem loteria, mas ua opção a uma experiência transcendental. Por isso, tem bases divinas a partir do termo aliança
A santidade do matrimônio e da família aparecem na GS e na HV (1 a 6). Mostram como os cônjuges devem viver ao lado dos seus filhos as experiências:
- da santidade
- do serviço
- da indissolubilidade
- da consagração conjugal
- do testemunho de vida na educação dos filhos
Deus, sendo fiel, conta conosco que somos infiéis. Ele nos acolhe e ao fazê-lo também nos convida à acolhida ao seu projeto. A HV mantém a ordem clara da vida e do bem da prole. A procriação regulada é um problema moral. Não nos esqueçamos de que a vida é um bem inalienável.
Como relfexão final, sugerimos a leitura da HV 14.


(Notas dos assessores Ronaldo e Tatiana)

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